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Qual a cor do vestido? Ou um ensaio sobre a percepção das cores

Há pouco tempo (da publicação deste texto), uma imagem começou a gerar certa polêmica nas mídias sociais, um vestido azul… ou branco?

Vestido azul ou branco

A dúvida que paira é porque algumas pessoas enxergam branco e outras azul e qual, afinal, é a cor do vestido?

Muitas teorias pairam acerca disso. Seriam estas: o quanto o ser-humano está feliz, algo biológico e como os cones se comportam em cada indivíduo, etc. Mas, na verdade, a resposta mais provável está na psicodinâmica das cores.

O que é cor?

A cor é a forma como um indivíduo interpreta uma determinada frequência de um feixe luminoso. A cor não é um fenômeno físico, mas um fenômeno individual. Cada ser-humano interpreta as cores de forma diferente.

A interpretação das cores se dá por três formas: biológica, cultural e sensorial. Ou seja, cada cor pode ser interpretado de acordo com fatores genéticos, com o ambiente social em que vivemos e/ou com a história de vida do ser humano.

Biologia

Existem dois grupos de células, cones e bastonetes que, unidas às células ganglionares, passam passam a informação luminosa para o cérebro. A teoria mais aceita é que os bastonetes interpretam a luminosidade, enquanto o três diferentes tipos de cones cuidam de interpretar as frequências dos feixes, vermelho, verde e azul. Todavia, isso não explicaria certos tipos de daltonismo. Por isso, há outra teoria que diz que há somente dois tipos de cones e não três, um que interpreta amarelo-azul e outro verde-vermelho.

Cultura

O meio em que cada ser-humano vive muda a forma como este enxerga e nomeia as cores. Se para a maioria a água é azul, uma outra cultura pode ter dado outra cor para a associação, indo de acordo com o que a sociedade enxerga. A água, então, poderia ser considerada verde ou vermelha, de acordo com o ambiente. Em alguns casos, algumas comunidades podem responder que depende da hora do dia. Independente do significado que cada cultura dá a uma cor, a interpretação das nuâncias também varia. Saber se algo é marrom ou laranja, verde piscina ou azul piscina, roxo ou violeta, vinho ou carmim, muda de acordo com o que o meio aceita e isso cria um “carimbo” na mente do indivíduo.

Fenômeno Sensorial

A interpretação das cores é relativa em cada indivíduo de acordo com o seu cotidiano. Simplesmente não somos capazes de reconhecer coisas que não conhecemos. A instrução visual é desenvolvida na infância e, quando adultos, a maioria do aprendizado é feito através de assimilações. Como, por exemplo, a associação de comparar um objeto que nunca viu com um outro objeto. O mesmo acontece com as cores. Criamos associações frequentes baseadas em nossa história de vida.

Na imagem abaixo podemos ver duas imagens do Homem-Aranha, uma do segundo filme do Sam Raimi e a outra, mais recente, do filme de Marc Webb. Se fosse perguntado qual a cor do uniforme do Homem-Aranha, a resposta seria claramente azul e vermelho.

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A verdade é que as cores usadas na cena, causadas pelo filtro, e até mesmo as cores ao redor não são capazes de mudar, pelo menos não conscientemente, a ideia que sua herança de vida, seu conhecimento adquirido por anos, dá de que a roupa do Homem-Aranha é azul e vermelha.

O filme Jogos Mortais – O Final é um outro bom exemplo, onde o sangue é rosa, pois esta cor trabalha melhor com a tecnologia 3D, todavia a sensação do espectador é que o sangue é vermelho, pois este tem um conhecimento prévio de que se trata de sangue e cria a associação com a cor.

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Afinal de que cor é?

Azul. Isso pode ser comprovado através de outros blogs de notícias e Tumblr da moça que publicou a imagem original.

Então porque alguns enxergam branco?

Pela internet há tentativas de explicar usando a diferença biológica de cada indivíduo (quantidade de cones e bastonetes) e até mesmo a diferença da calibração dos displays (monitores e celulares). O ponto falho dessas propostas de explicação é que algumas pessoas mudam sua opinião após algumas observações ou começam a notar outra cor, quando a cor predominante é visto ao lado. Além disso, as diferenças não se resumem a computadores diferentes. Pessoas diferentes, no mesmo dispositivo, alegam identificar cores diferentes.

O motivo pelo qual algumas pessoas enxergam o vestido branco é por uma causa sensorial, pela identificação do objeto em relação a outros tons e experiências anteriores. Essas experiências fazem com o cérebro conclua que a cor é branca, mesmo estando em um ambiente em que outros fatores alterem a cor do objeto. Uma experiência anterior muito comum que deve ter sido gravada no cérebro para dar essa sensação é o por do sol.

Cachorro olhando o por-do-sol

A respeito da imagem acima, temos plena convicção de que o cachorro é branco. Sabemos disso, e se nos perguntarem a cor do cachorro, ninguém vai dizer que o cachorro é azul. Temos consciência e inconsciência de que ambientes no por do sol, que tem esse contraste, causam tons azulados em coisas que são brancas. O cérebro, já treinado com esses tons, cria a resposta instantânea de que o objeto é branco.

Além disso, as cores predominantes na imagem são justamente cores opostas, que são complementares entre si, na escala cromática. A cor complementar tende a anular a outra quando sobreposta por meio de cores aditivas (emissão de luz), a confusão dificilmente aconteceria em um material impresso, por exemplo.

Por que nem todos enxergam branco?

Nem todos possuem uma história de vida igual. Algumas pessoas simplesmente não tiveram tantas experiências com esses tons de cores ou possuem outras experiências sensoriais que mudam a forma como é observada. Designers e artistas plásticos, por exemplo, acostumados a identificar pequenas diferenças em tonalidades de cores, tendem a ver o azul, pois identifica mais rapidamente a qual escala cromática pertence aquele tom.

Então pessoas que tem experiência com cores conseguem identificar pequenas nuâncias de cinza, como cinzas azulados, cinzas amarelados, etc. Pois isso é usado, inclusive, para ajustar materiais impressos de acordo com a forma com que a gráfica coloca a tinta.

Com o tempo a sensação da cor pode mudar, pois os olhos se acostumarão com os tons e se adaptará para compreender a imagem.

E quanto ao preto e o dourado?

Os tons pretos e dourados é mais por uma questão cultural do que sensorial. Claro que existe a questão do tom alaranjado da imagem ser reconhecido pelos olhos e a pessoa tender a aceitar que é preto. Mas a realidade é que o monitor não exibe dourado, mas marrom, logo, afirmar dourado é uma forma de falar por conta dele possuir tons que são comuns em objetos dourados. Então chamar aquele tom de marrom, dourado, ou preto é mais pela percepção cultural que se tem daquele tom, apesar de possuir um pouco da questão sensorial.

Concluindo

A capacidade do ser-humano de identificar cores em diferentes ambientes é o causador da confusão se o vestido é branco ou azul. O que fará com que uma pessoa identifique ou não o tom na imagem depende de suas experiências anteriores e meio social. Não tem nada de sobrenatural e anormal, mas é um efeito bem interessante que pode, deve e é aplicado em muitas áreas do design e artes. 

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