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Design Contest ou A Fraude do Bom Trabalho

Esse tipo de site é uma forma anti-ética de se ganhar dinheiro em cima do trabalho alheio e de qualidade duvidosa. Muito de vocês já devem ter escutado falar sobre sites especializados em Design Contests (FastMarcas, 99 Design, Design Contest, WeDoLogos, Click to Layout e outras porcarias). Nada mais são do que vários concursos em que o cliente escolhe o artefato que vai levar para casa. Todos eles parecem bastante interessantes com promessas de bons pagamentos para o designer e de qualidade e escolha para o cliente. Mas, na realidade, esse tipo de site é somente uma forma anti-ética de se ganhar dinheiro em cima do trabalho alheio e de qualidade duvidosa, veja porquê.

Como Funciona um Site de Design Contest?

O Cliente faz um cadastro, lança um “briefing”. Diz que quer pagar, digamos, 200 reais. Então a empresa lança o concurso e manda por e-mail para algumas centenas de designers cadastrados. Esses designers lerão o que o cliente pediu e fará uma “logomarca”. O cliente então escolhe a que ele preferir e paga direitinho o designer vencedor… lindo, né? O Designer ganhou, a empresa ganha. Todos ficam com dinheiro garantido.

Oportunidade de Design

Como funciona DE VERDADE um Site de Design Contest?

Um empresário desinformado (ou se achando o espertão), que não compreende o valor do trabalho de um design procura uma empresa qualquer para fazer o trabalho quase de graça. Então ele encontra um site como o We do Logos ou Click to Layout. Daí ele vê que tem a oportunidade incrível de ter centenas de designers à disposição por qualquer mixaria que ele oferecer. Então ele pensa: “Para quê eu irei gastar 8 mil com um designer? Se com 200 reais eu terei vários?”. Então o empresário, contrata a empresa de Concorrência.

O dono do site de Concorrência, como é muito esperto, cobra, digamos, mais 50 ou 100 reais. E daí, quase sem custos (somente hospedagem e o desenvolvimento inicial do site e alguma coisa para manter as linhas de comunicação) ele manda o e-mail para micreiros, “sobrinhos” que se acham designers super hiper mestres Jedis, desesperados e alguns estudantes de alguma área de design que ainda não aprenderam ética ou não perceberam o quão danoso é esse tipo de padrão de negócios.

Em seguida, esses “profissionais” passam horas de seus dias, já que possuem tempo disponível, fazendo umas “logos bonitinhas” no CorelDRAW ou Illustrator, a partir de pedaços de identidades visuais que eles encontram no Google Images. Estes então mandam duas, talvez três, variações dessa “logo bonitinha” e cruzam os dedos na esperança de ganhar um trocadinho para comprar uma bermuda na C&A.

Então o empresário que contratou a empresa vai ver as “logos bonitinhas”. O cara não tem a menor noção de design e não entende nada de propaganda ou da importância da forma como a empresa dele será vista pelo público. Somente quer uma “logomarca bonitinha”. Daí ele vê aquela que ele mais simpatiza e pensa: “Sou muito comelão, escolhi a melhor e ainda paguei pouco”.

No final, vários micreirinhos, sobrinhos e estudantes vão ficar chorando triste no canto da sala e ter extremas crises de depressão, talvez usando as marcas em algum portfólio feito no WIX, enquanto o ganhador, se achando agora “o designer” irá comprar sua bermuda. O dono da empresa de Design Contests estará rindo a toa, pois não teve trabalho nenhum e ainda arrumou coisa para colocar no seu portfólio e aparecer em programas duvidosos como o Pequenas Empresas Grandes Negócios que premia as empresas por quanto elas ganharam e não por seus valores e qualidades. Claro, com o auxílio de alguns consultores do Sebrae (não todos, mas boa parte), que incentivam os péssimos negócios para a área de Design Digital e Tecnologia.

Logos Stock

Qual o Resultado de Tudo Isso?

O Cliente, que não tem obrigação de entender o que é design, escolhe a “logomarca” (sim, eu sei que é um termo incorreto) de acordo com seus gostos pessoais.

Ou seja, não foi uma decisão feita por ser o melhor estudo de público, nem funcionalidade, nem por método heurístico, nem nada. Simplesmente foi escolhido no gosto e no achismo. Que resultado podemos esperar para essa empresa pelos olhos de seu público?

Além disso, dezenas de pessoas que participaram dessa concorrência não receberão nada, mesmo se talvez tenha apresentado um projeto melhor. Ou seja, irão perder seu tempo em vão. Tempo que poderiam fazer coisas mais importantes, como estudar filosofia do design, cores, Bauhaus, psicologia, geometria, etc.

Esse tipo de processo também causa uma desvalorização da área de design. O cliente comum irá acreditar que o preço para uma identidade visual, organizada e funcional será o mesmo que o de uma Concorrência. Isso criará um grande problema para argumentar sobre os valores que o designer de verdade está cobrando. As pessoas concluirão que design nem dá trabalho.

Para a empresa de Design Contest, será ganhar dinheiro sem ter que fazer nada e ainda levar todo o crédito. Uma ideia inteligente, do ponto de vista monetário, mas extremamente anti-ética.

Concorrência x Concurso

Todavia, é necessário deixar claro a diferença de concorrência para concurso.

Enquanto a concorrência trata-se de um trabalho comercial sob promessa de pagamento especulativo, o concurso se trata de uma atividade lúdica, premiada ou não, sem que a finalidade do artefato gráfico seja o uso comercial da mesma.

Ou seja, a concorrência é “Me apresente algo para que eu use na minha empresa, se eu gostar.”, enquanto o concurso é “Vamos nos reunir e premiar o trabalho melhor para estimular o estudo da comunidade”.

Por exemplo, em um concurso vários profissionais vão apresentar ideias, sobre um determinado tema, e discutir entre si. O projeto resultante é do profissional, assim como a decisão de seu uso. O prêmio vai ser entregue a alguém e o objetivo é lúdico, é diverti-se e dividir experiências.

Concluindo

Se você é designer de verdade, pule fora dessa. Nem relógio trabalha mais de graça, que tem que trocar pilha, ou parar para ficar dando corda.

Se você é empreendedor, não caia em conversas de certos consultores de procurar coisas extremamente baratas ou de sites idiotas que fazem concursos. Se você PRECISA de um designer, então a decisão do que é melhor NÃO É SUA. Você pode e DEVE opinar, MAS NÃO DECIDIR. Você não contrata um profissional para dizer como deve ser feito o seu trabalho. No caso de design, diga o que espera do resultado e como quer que o seu público reaja. Mas as decisões de como isso será feito é do designer, afinal, é esse o trabalho dele.

Ou seja, no final de tudo, o empresário vai acreditar que foi feito um bom trabalho, mas o mais provável é que seja horrível, pois a escolha de um profissional de publicidade e comunicação não é feita a partir de seu gosto individual, mas sim do que o público se agrada e precisa.

Por último, se você é proprietário de um site de Design Contest… #FUCKOFF!

Para atualização, segue o Artigo 12 do código de ética da ADG (Associação dos Designers Gráficos)

Artigo 12º – O Designer Gráfico não deve, sozinho ou em concorrência, participar de projetos
especulativos pelo qual só receberá o pagamento se o projeto vier a ser aprovado.

  1.  O Designer Gráfico pode participar de concursos, abertos ou fechados, cujas condições sejam aprovadas pela entidade de classe;
  2. Uma taxa administrativa justa pode ser adicionada, com o conhecimento e compreensão do cliente, como porcentagem de todos os itens reembolsáveis pelo cliente que tenham passado pela contabilidade do Designer Gráfico;
  3. O Designer Gráfico que é chamado para opinar sobre uma seleção de designers ou outros consultores não deverá aceitar nenhuma forma de pagamento por parte do designer ou consultor recomendado.

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